O aniversário de Penápolis passou (25/10) e eu não havia feito uma homenagem
à minha cidade natal. Fiquei
buscando em minhas lembranças coisas boas que vivi em minha infância e parte da
minha juventude... Achei meio clichê fazer uma homenagem a partir das minhas
memórias...
Portanto, tomei a liberdade de postar um texto produzido por outro
penapolitano como eu, que mais do que homenagear me fez lembrar de uma história
que não busquei em minhas lembranças...
Segue o texto escrito por Ulisses de Oliveira da Silva (meu
querido primo).
PENÁPOLIS - 104 ANOS - COMEMORAÇÕES E LAMENTAÇÕES
Para se constituir enquanto cidade, índios de diversas tribos, que há
séculos ocupavam a região de Penápolis e de todo o Noroeste Paulista, foram
dizimados para a construção de estradas de ferro e estações ferroviárias, as
quais tinham como principal função escoar a produção de café, produto que virou
mania de consumo em todo o mundo capitalista no começo do século passado.
Oti-Xavantes foram perseguidos, Guaranis foram massacrados e
Caingangues foram dizimados sob a desculpa de que estavam atravancando o
progresso do país. O modo para exterminar a população indígena passava por
guerras biológicas como infestação do vírus do sarampo, varíola e influenza nas
roupas que os assassinos traziam dos hospitais de isolamento na capital e,
posteriormente, colocadas nas trilhas dos indígenas. Além disso, havia o envenenamento
das águas dos rios onde pescavam.
Obviamente que a bala também foi usada por bandeirantes e pistoleiros.
Interessante notar que, 104 anos depois, a violência contra os
legítimos donos das terras de nosso país se institucionalizou. Só neste ano,
pelo menos mais 30 índios Guarani e Kaiowá se suicidaram no Mato Grosso do Sul,
segundo o jornalista Bob Fernandes em consulta ao Conselho Indigenista Missionário (Cimi).
Dados oficiais, da Secretaria Especial de Saúde Indígena, do Ministério da
Saúde (Sesai), dizem que de 2000 até 2011, 555 Kaiowá-Guarani tiraram suas próprias
vidas. O motivo: estão sendo expulsos de suas terras por meio de decisões
judiciais (!!!), encurralados em micro-espaços para dar vazão ao agronegócio
(cana, soja, milho, gado), forçados a se misturar com outras etnias, mortos por
pistoleiros...
Antes, os Kaiowá-Guarani só pediam para viver em paz nas suas terras.
Hoje, eles querem algo a mais e manifestaram o pedido em carta ao Governo e à
Justiça Federal:
"Pedimos para não decretar a ordem de despejo/expulsão, mas
decretar nossa morte coletiva e enterrar nós todos aqui. Pedimos para decretar
nossa extinção/dizimação total, além de enviar vários tratores para cavar um
grande buraco para jogar e enterrar nossos corpos. Este é nosso pedido aos
juízes federais."
O aniversário de Penápolis, minha cidade, não é só motivo de
comemoração para mim...
ULISSES DE OLIVEIRA DA SILVA é jornalista formado pela UNESP de Bauru,
trabalhou em um dos importantes jornais impressos da cidade de Penápolis - Jornal Interior - e hoje
é repórter do jornal DIÁRIO DE SÃO PAULO, na capital.
Um comentário:
Uma honra estar em seu blog, primo. Grande abraço e saudades
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