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domingo, 15 de dezembro de 2013

QUANDO O NATAL CHEGAR...

Estive fuçando nas postagens antigas do blog  e encontrei uma que me chamou a atenção pela atualidade (mesmo escrita há 4 anos). Trata-se da crônica intitulada "Onde mora o papai Noel?" Como estamos nos aproximando do Natal, achei por bem trazê-la novamente para a leitura e reflexão sobre nossa vida e postura. Espero que gostem...
 
ONDE MORA O PAPAI NOEL?
 
Final de ano, festas, Natal, Ano Novo... que época boa não é mesmo!
Das poucas lembranças que tenho da minha infância a respeito dessa época, a imagem que fica latente em minha mente é a da unidade da família. O povo reunia por dias na casa da vó. Ali revíamos os parentes que há muito não víamos, conversávamos, (nós, os primos, brincávamos e mais nada).
Lembro-me do "forró" no quintal noite adentro... isso pra não falar da comilança! Tinha toda uma magia em torno do final de ano (que demorava um ano inteiro pra chegar). Era gostoso receber cartão dos tios de longe e colocar na árvore de natal...
Pois é! Alegria mesmo era esperar o Bom Velhinho, pegar no sono e acordar no outro dia decepcionado de não tê-lo visto, mas contente com o presente - que nem sempre (no meu caso, nunca) era o que havíamos pedido.
É caros amigos, os tempos mudaram! Longe de mim tecer um discurso saudosista sobre as festas de final de ano, porém, não dá para não notar as transformações a que nossa sociedade vem sendo submetida.
Os dias, hoje em dia, têm passado mais rápido. Será que as horas estão com defeito? Acho que não...
Nossa percepção do tempo e das atividades diárias mudaram radicalmente.
Da mesma forma, mudaram também nossas posturas diante das relações sociais e convivência familiar. E o final de ano não passou incólume à essas transformações.
Vejam que engraçado. Fui brincar de amigo secreto numa confraternização e, antes, correu uma lista de "qual presente você quer ganhar?" (acabei ganhando o presente que pedi...). Achei meio sem magia, sem encantamento. É como se eu comprasse o meu próprio presente e a surpresa fosse apenas a cor e quem me tirou.
Antes fazíamos um "junta panela" na ceia, hoje, "buffet de Natal".
Parei mesmo para refletir sobre esta fase que estamos passando quando minha filha (um ano e sete meses) me respondeu com seu pouco vocabulário onde mora o Papai Noel: "No shop papai, no shop".
Fica, a partir dessas lembranças, um convite a todos a relembrar os momentos vivenciados nos Natais passados e reavaliar os valores que estamos criando e seguindo agora. Por que não aproveitar a oportunidade para voltarmos às nossas raízes? À nossa família?
Não devemos querer voltar no tempo, pois como falei, os tempos são outros, contudo se faz necessário repensar o presente com base no passado para que possamos criar um futuro menos traumático, mais acertivo...
Quem sabe assim, podemos melhor acomodar o Papai Noel entre tantas lojas e escadas rolantes!

domingo, 8 de dezembro de 2013

A MÍDIA E SEU PODER DESTRUTIVO

Por Sidney Sanches Neto e Alécio de Jesus Oliani

Segundo o código de ética dos jornalistas brasileiros, conforme é citado em seu quarto artigo: “O compromisso fundamental do jornalista é com a verdade no relato dos fatos, devendo pautar seu trabalho na precisa apuração dos acontecimentos e na sua correta divulgação”.
Nós jornalistas, temos o compromisso de levar à sociedade, todo tipo de informação, que denuncie os fatos considerados relevantes a sua organização e que não se abstenha de exercer seu maior dever: informar. Porém, estamos diante de uma sociedade que busca o espetáculo... Maus profissionais, praticantes do anti-jornalismo, expõem suas notícias de maneira, no mínimo, questionável. A informação é transformada em um grande show, envolvendo em um mesmo palco acusados e inocentes.
O jornalista, tomado pelo interesse principal dos meios de comunicação atuais – falamos de IBOPE, publicidade, furo jornalístico – não ouve ambas as partes envolvidas nos casos, pois há de se convir que todo escândalo é exaltado pela sociedade do espetáculo, assim promovendo verdadeiros linchamentos, massacres sociais, injustiças que poderão prejudicar eternamente a vida das pessoas acusadas.
Lembremos do caso “escola base”, ocorrido no ano de 1994, na cidade de São Paulo, quando seus proprietários e funcionários foram acusados de abuso sexual por duas crianças, de quatro e cinco anos respectivamente.
Os veículos de comunicação (destacando nomes importantes como TV Globo e revista Veja, por exemplo),  agiram com uma das maiores demonstrações de falta com a ética profissional já registradas por parte da imprensa nacional. Seus repórteres abordavam freneticamente o assunto, sempre revelando um novo fato até então desconhecido. Eram emitidas manchetes como: “Kombi era motel na escolinha do sexo”, ou também “escola de horrores”.
Essas denúncias e acusações infundadas, geraram não espantosamente, uma comoção nacional. Houve uma “histeria coletiva”, onde os acusados foram marginalizados, tidos como culpados, condenados sem que ao menos fossem ouvidos e suas declarações apuradas. O resultado de tamanha barbaridade promovida pela mídia: - uma das maiores injustiças já ocorridas, pois, todos os acusados foram inocentados por falta de provas, e a viril e infalível imprensa nacional teve de retratar-se perante seu erro. Más, será que desculpas são suficientes?
Recordemos que todos os acusados, mesmo após serem absolvidos, sofreram com uma discriminação coletiva, desenvolveram enfermidades como síndrome do pânico, depressão, doenças cardíacas, e assim, foram impostos ao isolamento social. Onze anos após o caso ocorrer, a rede globo foi condenada a pagar indenizações em cerca de 450 mil reais a cada um dos acusados no caso escola base, porém, o dinheiro recebido, não mudou  em nada a catástrofe imposta pela má veiculação de informações tão contundentes, que destruíram a vida de brasileiros inocentes. Devemos nos valer de nosso direito à liberdade de expressão, porém, agindo com ética, seriedade e responsabilidade, lembrando sempre, que a maioria da população molda sua percepção do real segundo a opinião da imprensa.
Devemos informar, entretanto, nunca devemos prejudicar pessoas inocentes com nossa atitude. Devemos ser éticos e verdadeiros.

ALÉCIO e SIDNEY são Jornalistas e colaboradores do Blog Sociologia no Mundo.


 

domingo, 1 de dezembro de 2013

"SOCIEDADE ATUAL DIFICULTA A VIVÊNCIA DO LUTO", REVELA PESQUISADOR DA USP

 
A entrevista deste mês traz as experiências e os resultados da pesquisa de mestrado (realizado na Universidade de São Paulo - USP), por Rodrigo Feliciano Caputo em três aldeias dos remanescentes Bororos, no Mato Grosso. Caputo tem formação inicial em Psicologia e na entrevista cedida ao SNM relata seus sentimentos e percepções sobre as visitas realizadas  às aldeias e, fala sobre sua experiência na elaboração da dissertação.
 
SNM - Caputo, em que consistiu sua pesquisa de mestrado?
Caputo - O  estudo que realizei procurou contribuir para o aprofundamento conceitual e metodológico, através da análise comparativa entre dois grupos humanos contemporâneos que apresentam características histórico-culturais específicas: os moradores da cidade de Lins-SP (“linenses”) e os remanescentes “bororos” que vivem em três aldeias no estado de Mato Grosso.
 
SNM - Em seu estudo, o que pretendia comparando essas duas realidades diferentes (os linenses e os bororos)?
Caputo - Na realidade, minha intenção era tentar compreender, por meio de revisão da literatura existente e exame de fontes documentais, como esses grupos lidam com a morte. Para tanto, foi necessário entrar em contato com suas estruturas e dinâmica social, sua história de ocupação e transformação dos territórios por eles habitados, seus mitos fundadores, suas instituições, práticas, discursos, técnicas e símbolos.
 
SNM - Por que você quis pesquisar esse assunto?
Caputo - Boa parte (senão todos) os fundamentos culturais de uma sociedade convergem nas suas prescrições técnicas e simbólicas sobre como lidar com a morte, de modo a integrá-la na realidade  social e garantir a continuidade da vida comunitária,  estabelecendo códigos de conduta, modulando relações de parentesco, instituindo papéis profissionais etc. Então, essas diferentes "maneiras" de lidar com a morte, chama a atenção (e é de  grande interesse) da Psicologia Social, que vem sendo estudados cada vem mais.
 
SNM - O que mais te chamou a atenção sobre a pesquisa?
Caputo - O que me impressionou, primeiramente, foi que, apesar do intenso processo de  aculturação dos “bororos”, este grupo ainda guarda diferenças marcantes em relação aos “linenses”, em relação ao modo como lidam com a morte. Entre os linenses, por exemplo, a morte  é mantida à distância, no sentido de que as tarefas funerárias são "terceirizadas" a profissionais e instituições específicas. 
O luto é vivenciado só ou junto à família nuclear e a expressão da dor costuma ser abreviada. Já os bororos geralmente guardam proximidade dos indivíduos adoentados e moribundos, bem como de todo o ritual funerário. A dor é expressa e o luto é vivenciado em comunidade. Por outro lado, em ambos os grupos confirma-se que o conjunto de técnicas e símbolos de lida com a morte representa um importante organizador psicossocial, pois orienta e auxilia as pessoas no enfrentamento individual e coletivo da morte, favorecendo na elaboração dos impactos psíquicos, na reorganização dos papéis e dos vínculos sociais.
 
SNM - Como foi ficar esses dias na aldeia?

Caputo - Foi desafiador e fascinante me integrar no grupo dos Bororos, já que não fazem parte do meu cotidiano. Porém, a inserção ocorreu em um contexto atenuador dos impactos gerados pelo ingresso de um forasteiro no grupo. O ingresso no grupo Bororo ocorreu através de um Projeto de Ação Voluntária feito entre o Centro Católico Salesiano Auxilium (UNISALESIANO), de Lins-SP, local em que trabalho e as aldeias de Meruri (índios Bororo) e Sangradouro (índios Bororo e Xavante). O projeto ocorreu de 11 a 19 de julho de 2012 Nesta ação de voluntariado, eu fui designado para compor o grupo que seguiria para Meruri. Os quatro primeiros dias foram planejados pelos habitantes de Meruri, os quais promoveram algumas danças, rituais, levaram-nos para passeios e visitas acompanhadas pela aldeia, festas, atividades esportivas mesclados com rodas de conversas e palestras realizadas por lideranças Bororo (diretor da escola, cacique, responsáveis pelo Museu Comunitário e Centro de Cultura Bororo. Pe. Rodolfo Lunkenbein); bem como por dois religiosos que estão há décadas na aldeia.
 
SNM - profissionalmente você atua de que modo hoje?
Caputo - Hoje sou psicólogo clínico e atuo com atendimento na cidade de Lins e região. Sou professor universitário e consultor em gestão de pessoas. Desenvolvo pesquisas de mestrado em Psicologia Social e do Trabalho pela Universidade de São Paulo - USP.
 
SNM - Essa não foi sua primeira experiência com o tema da morte. Você desenvolveu projetos na sua área com pacientes soropositivos. Conta para a gente como foi esse projeto.
Caputo - Essa experiência se deu em 2006. O trabalho consistiu em formar um grupo de apoio aos soropositivos e seus familiares frequentadores da ONG MOVECA (Movimento Vestindo a Camisa), da cidade de Penápolis-SP, com o objetivos de construir um vínculo com os integrantes desta, estabelecendo, portanto, uma relação de alteridade. No período em que atendi na Ong, um dos integrantes do grupo faleceu, a partir de então passei a investigar as questões relativas à morte e às vivências do luto.
 
SNM - Como é para você trabalhar com pacientes nessa condição?
Caputo - Atendo muitas pessoas que estão vivenciando o luto de entes queridos ou coisas que apreciavam muito, porém vejo que nossa sociedade não facilita a esta vivência. Este é um tema proibido, já que após o funeral, cada vez menos se tolera o choro e o pesar, assim o luto que outrora era uma reação natural e esperada diante de uma perda significativa, passou a ser patologizado e medicalizado. Deste modo, é muito satisfatório poder facilitar a elaboração do luto de pessoas que além de sofrerem as suas perdas, sofrem por não poderem expressar suas dores, suas angústias e medos.

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