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domingo, 15 de setembro de 2013

CONTRA A FILOSOFIA DO COITADINHO


 
QUANDO A REALIDADE É MELHOR DO QUE A FICÇÃO
Por Flávia Maoli
 
Ontem (09/08/2013), me prestei a ver a novela Amor à vida. Me prestei – porque eu já sabia que não ia gostar do que ia ver, mas mesmo assim resolvi ver. Pra quem não acompanha a novela, ontem foi ao ar a cena em que Nicole (Marina Ruy Barbosa) morre no altar, depois de saber que seu noivo estava de maracutaia com a sua melhor amiga. Mas ela morreu de que? De câncer? Não, ela morreu de desgosto, no melhor estilo me-segura-que-eu-vou-desmaiar. Mas essa não foi a pior cena – a chegada dela ao “Céu” foi tão medonha que só quem assistiu entende, eu tive vergonha alheia pelos envolvidos! Na verdade, a história toda da Nicole foi M E D O N H A.
Nicole morre nos braços de seu noivo, no altar
Em primeiro lugar, a polêmica do raspa-não-raspa a cabeça. Eu entendo todos os motivos da atriz para não raspar a cabeça – eu mesma acho que não cortaria aquele cabelão lindo se fosse ela – mas, a partir do momento que se assina um contrato para viver uma personagem que tem câncer e que vai fazer quimio, é sabido que vai rolar de perder o cabelo! Se não queria/não podia raspar o cabelo, não devia nem ter aceitado o papel, tenho certeza que muitas atrizes raspariam a cabeça rindo. Mas ok, aceitou o papel e não quis raspar a cabeça.
Dizem que, na história original, Nicole (de cabeça raspada) iria se curar e o noivo falcatrua iria se apaixonar de verdade por ela e largar a pilantragem, e eles viveriam felizes para sempre. Com a recusa da atriz ao novo corte, o autor decidiu mudar a trama – escreveu no twitter inclusive que a história seria “muito romântica, uma das mais lindas que já escrevi”. Desde quando morrer no altar, com câncer, virgem e de olho aberto é uma história romântica?? Em que mundo essa gente vive?!
O que eu fiquei pensando foi: essa história foi boa pra quem? Informou as pessoas sobre o câncer? Não, as informações surgiram todas distorcidas. Nicole teve Linfoma de Hodgkin – a mesma doença que eu tenho – um dos cânceres mais curáveis que existe. E, ao contrário do boletim ~médico ~ da personagem, não existe metástase pulmonar nesse tipo de câncer! É tão errado quanto dizer que a garota tinha câncer de próstata! “Ai, tá, mas é só ficção…” Sabe quantas pessoas se informam através da novela? Sabe quantas pessoas que recém foram, ou vão ser diagnosticadas em breve vão entrar em pânico pensando que esse foi o câncer que matou a personagem? Pior ainda, além de passar informações errôneas sobre a doença, a emissora perdeu a chance de passar uma mensagem positiva!
Chega desse clichê tenho-câncer-não-consigo-mais-sorrir. Muitas pessoas, nesse exato momento, estão encarando um tratamento pesado contra o câncer e sorrindo, trabalhando, dormindo, pagando contas, vendo tv, transando, comendo, xingando o grêmio, sabe? A vida não pára só porque se está doente. Ninguém que tenha amor à vida e um diagnóstico de poucos meses restantes vai ficar chorando tanto quanto essa personagem! Se a Nicole fosse minha amiga eu dava de relho pra parar com o mimimi!
Além disso, essa polêmica de raspar ou não a cabeça não faz nenhum sentido. Exceto por algumas poucas quimios que não causam a queda, perder os cabelos não é uma escolha para quem tem câncer. É um momento triste? Sim, é! Para uns mais, para outros menos, mas todos sentimos a diferença na nossa auto imagem. Essa história de a personagem não cortar o cabelo porque queria estar bonita no altar é tenebrosa – ela estaria com o cabelo todo falhado no dia do casamento!  Se tivessem colocado uma touca pra fingir que a atriz estava careca, pelo menos seria mais verossímil. Aí a mensagem que isso tudo passou foi: que ficar careca é feio, que o cabelo define a pessoa, de que quem tem câncer passa o dia choramingo e que o câncer mata.
Pergunto de novo: essa história serviu de inspiração pra quem?! A personagem até poderia morrer, mas que morresse lutando, servindo de inspiração, deixando as pessoas ao redor dela mais felizes, como fizeram o Dr. David Servan-Schreiber, a Hebe, Steve Jobs, e recentemente a querida Talia Castellano, entre tantas outras pessoas que tiveram amor à vida.
 


FLÁVIA MAIOLI é graduada em Arquitetura e Urbanismo. Atualmente trabalhando como autora do blog Além do Cabelo e também é uma colaboradora do Sociologia no Mundo.

2 comentários:

Fernando disse...

Belo texto.

Vitória Karolline disse...

A arquiteta e então colaboradora do blog Sociologia no Mundo esclarece a trama De Nicole na novela Amor a Vida.
No texto ela questiona do que a história da Nicole serviu para ajudar pessoas que estão passando por esse mesmo tipo de câncer, questiona também que esse câncer que a Nicole tinha não era tão difíscio de se curar como dizia na novela, e realmente a novela não ajudou em nada, o texto do altor era confuso e só passou mensagens negativas para a sociedade.

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