Por Julio César Gonçalves
Esta semana nosso blog traz uma entrevista com o estudante de Jornalismo, Salvador Cruz Neto. Aos 22 anos, Neto acaba de se aposentar devido a sua doença (esclerose múltipla). Em entrevista, fala sobre seus sonhos, seu futuro profissional, sua rotina e muito mais. Confiram!
Há quatro anos, Neto luta contra a esclerose múltipla |
SNM: Neto, por que o jornalismo?
NETO: Pela fotografia. Aqui em prudente não tem tanto lugar pra estudar nessa área, então, resolvi fazer a faculdade de Comunicação Social que se aproxima mais.
SNM: Desde quando você gosta de fotografar? Você já fotografa profissionalmente?
NETO: Desde sempre, acho. Já tive algumas disciplinas que me deram uma noção de fotografia. Na família já me destaco! Enquanto as fotos em outras câmeras ficam ruins, a minha fica boa (risos).
SNM: Neto, vamos falar um pouco sobre a esclerose múltipla. Quando descobriu a doença?
NETO: Eu descobri a doença, mais ou menos, quando ia completar dezenove anos (2010).
Foi uma fase ruim. A princípio achei que era coisa da minha cabeça, depois percebi que era mesmo a doença. Em mim ela se manifestava de um jeito bem chato.
Quando eu andava ou me cansava já sentia os sintomas: desequilíbrio e fadiga (os mais fortes), dormência e visão turva às vezes. Tinha muito medo e não entendia nada sobre o que estava acontecendo comigo.
Hoje, dou graças a Deus em ter colocado anjos no meu caminho. Eles me ajudam a ter uma vida normal. Não vivo em função da EM, "ela sim vive em função de mim".
SNM: E o tratamento?
NETO: Já vai fazer quatro anos que eu vivo assim, entre idas e vindas ao/do hospital para fazer pulsoterapia e em clínicas para exames médicos, me sinto bem e sigo o tratamento certinho.
Já passei por dois tipos de tratamento medicamentoso, de laboratórios diferentes. O primeiro que usei era muito “doloroso”, tomava medicação injetável dia sim dia não. Hoje o faço por meio de comprimidos diários.
SNM: E como é sua rotina? Alterou muito em relação à esclerose?
SNM: Você sente ou já sentiu algum tipo de preconceito por parte das pessoas, em relação à esclerose?
NETO: O que eu sinto mesmo é uma grande preocupação por parte das pessoas, preconceito nunca. O pior sentimento é o da dó, pena. Se for pra ter algum sentimento, tenha compaixão.
NETO: É sossegada até, eu fico de boa em casa, às vezes ajudo minha mãe no escritório. Todas as terças e quintas faço trabalho voluntario na 3° idade, às segundas e sextas fisioterapia. Logo logo quero começar natação. Já fui mais ativo, eu não me cansava tanto como agora...
SNM: Me fala sobre seu trabalho com a 3ª idade.
NETO: Eu comecei com esse trabalho devido as horas de atividades exigidas pelos projetos sociais da faculdade, mas também por minha vó. Ela faz visitas ao asilo há 10 anos. Elas [assistidas do asilo] são senhoras que riem muito e falam besteiras. Estou elaborando um calendário de fotografias com elas para entregar no final do ano, como lembrança.
SNM: Você sente ou já sentiu algum tipo de preconceito por parte das pessoas, em relação à esclerose?
NETO: O que eu sinto mesmo é uma grande preocupação por parte das pessoas, preconceito nunca. O pior sentimento é o da dó, pena. Se for pra ter algum sentimento, tenha compaixão.
SNM: Uma das coisas que eu admiro em você, como seu professor, é que em momento algum você usa a doença nem como muleta nem para tirar vantagem.
NETO: Obrigado, eu tento evitar isso. Faço umas brincadeirinhas, às vezes, mais para descontrair.
SNM: A vida fica mais leve assim.
NETO: Com certeza fica leve sim. Bom humor sempre (mesmo que em tempos difíceis). Tem me levado a melhores resultados.
SNM: Qual seu maior sonho?
NETO: Me fiz essa pergunta ontem ou ante ontem, se não me engano. Meu maior sonho é a minha realidade. Ser honesto, ser como eu sou, estar de bem comigo e com as pessoas que eu gosto.
SNM: Seu maior medo é...
NETO: Escadas. Escadas sem corrimão, escadas em geral (risos). Um medo bobo que me afeta, só esses.
SNM: Você é filho único? Como é seu relacionamento em casa?
NETO: Tenho uma irmã gêmea e um irmão de 24 anos. Minha irmã e eu brigamos o tempo todos mas não nos largamos (risos). Meu irmão mais velho me irrita constantemente (risos). De verdade, somos cães e gatos. O meu pai saiu de casa e foi viver uma outra vida... minha mãe é minha rainha depois de Deus e Maria. Ela é o meu anjo maior.
NETO: Não no sentido de ir a Igreja e sim no sentido de ter fé. Onde eu for, falar de Deus e me agradar está ótimo. Espiritismo, catolicismo, crentes, tudo, evangélicos etc, se me agradar e eu ficar bem, não prejudicar ninguém...
NETO: Eu vi um pouco de necessidade, quando eu estava descobrindo a doença. Na época, recebi a notícia de que eu iria ficar na cadeira de rodas e que, também, poderia ficar cego. Precisava criar algo que me auxiliasse a encarar essa nova realidade. Então criei o blog. Lá eu não cito a EM como uma doença mas sim como uma amiga diferente.
2 comentários:
Adorei a entrevista.
Obrigado pela oportunidade.
Muito bonita a história do Neto, uma história de determinação e superação. Na entrevista ela cita a EM como uma amiga diferente, e da pra perceber pelo oque ele conta que a EM não foi um obstaculo na vida dele, não foi o motivo para ele desistir de fazer as coisas que ele gosta.
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