Por Helena Cararo
Há
um grito ecoando em nossos ouvidos. Um grito de dor, de desespero, de angústia.
Nossos irmãos estão morrendo sem ter ao menos uma chance de lutar. E por quê?
Por preconceito, por prepotência, por hipocrisia. Aylan Kurdi de três anos
nasceu ouvindo o som próprio da guerra e morreu tentando fugir para um futuro
melhor. Amanheceu na praia, semelhante à um anjo dormindo, mas sem vida como
uma árvore que teve suas raízes arrancadas da terra.
Esse
menino sírio representa toda a humanidade que sofre a dor de um mundo que
julga, que castiga e impõe regras. Homens, mulheres e crianças morrem de frio,
de fome ou queimadas em baixo de pontes em grandes centros urbanos. Moram nas
ruas não porque querem, mas porque não encontraram uma porta aberta diante da
sociedade. Homossexuais são espancados simplesmente por assumiram o que são e
porque os hipócritas do mundo dizem que é errado. Os cristãos estão sendo
perseguidos por louvar o ao Deus que eles acreditam e escolheram para seguir,
mas os juízes da humanidade impõem um deus e querem que todos se ajoelhem
diante dele.
Os
demônios soltos na terra colocam regras e crucificam aqueles que se afastam
delas. Ser gordo é errado, todo gordo é feio. Afirmam que o bonito é ser magro
e tantas mulheres buscam ao extremo esse padrão de beleza a ponto de ficar
anoréxicas. Os mesmos padrões de beleza dizem que ter cabelo liso é mais belo,
então vamos para a progressiva. Vamos ser loira e de olhos azuis, tudo
resolvido com tinturas e lentes de contatos. E onde fica a autenticidade de
cada ser humano, seus gostos e o livre arbítrio?
Certa
vez me deparei com duas crianças negras brigando entre si, brigavam para ver
quem tinha a pele mais clara. Acreditavam que o outro era negro e ele não.
Por que isso? Quem disse àquelas crianças que ser negro é feio? Onde está a
beleza do mundo, a simplicidade da vida, o amor ao próximo? São perguntas que o
mundo esqueceu-se de questionar e que o silêncio de um corpo na praia trouxe de
volta aos gritos.
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