Por Julio César Gonçalves
Aristóteles afirmou certa vez: "O homem é um animal político", um animal social. Evidentemente que ele se referia à natureza coletiva dos seres humanos.
Nós não nascemos para viver isolados, não somos ilhas. Somos arquipélagos.
Desde os primórdios da vida humana o homem se organizou em agrupamentos, mais ou menos vinculados afetivamente. Uma das primeiras formas de associação foi o clã. A primeira família. Aliás, é na família que se busca os elementos-chave para a compreensão da sociedade: as relações interpessoais, o sentimento de pertença, objetivos focados e comuns, dependência mútua compartilhada etc. Depois vieram as tribos, as aldeias (ou genos) e só depois as sociedades complexas.
Quem vive? Ora, nós vivemos. Nós quem? Nós seres humanos. Mas somente seres humanos vivem? Não... Todo ser vivo vive. Parece óbvia tal resposta.
O que caracteriza a vida em um ser vivo são o conjunto de atributos biológicos presentes em sua constituição. Respirar, movimentar-se, desenvolver-se, reproduzir, envelhecer, morrer. Sob estes aspectos (biológicos), somos tão vivos quanto uma bactéria. Entretanto, quando falamos de convivência, falamos de atributos tipicamente humanos. A própria acepção da palavra já deduz: CONVIVER = VIVER COM o outro. Conviver é ensinar e aprender, é ajudar e ser ajudado, é se tornar melhor com outras experiências compartilhadas. Conviver é ser melhor a cada dia. Nisso nos diferenciamos dos outros seres vivos, porque não são aspectos apenas biológicos de que somos feitos, mas também sociais.
Então quer dizer que os animais não convivem entre si? Do ponto de vista sociológico não. Essa é uma realidade tipicamente humana. Os animais podem viver em bandos e expressar certas reações muito semelhantes às que apresentamos na convivência diária, entretanto, eles não têm algo que é extremamente importante para caracterizar a convivência: a consciência. Outros seres vivos não agem movidos pela decisão livre e consciente. Agem por impulso, por instintivo. Os animais e plantas se alimentam pelo instinto da fome, por exemplo, nós, além dos instintos, nos alimentamos por outras motivações (ansiedade, gula, para não fazer "disfeita"). Os animais se relacionam sexualmente e se reproduzem para manter a espécie, nós, além deste motivo, nos relacionamos por carências, por prazer, por vingança, por amor. Fazemos controle de natalidade, criamos métodos contraceptivos, abortamos.
Portanto, é-nos evidente que temos duas naturezas. Podemos dizer até que sofremos dois partos: um natural e, portanto, biológico; e, outro social, porque nascemos para a cultura, para os costumes, para o mundo que nos rodeia.
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